Nosso guia de Guatapé: dicas do que fazer, onde se hospedar, onde comer, como ir desde Medellín e a histórias das inundações de El Peñol, que formaram as lagoas espelhadas da região.
Perto de Medellín, a cerca de 2h, fica Guatapé, uma cidade famosa por ser considerada uma das mais bonitas da Colômbia. Por isso, muita gente faz um bate-volta até lá, já que ela é pequena e dá pra ver tudo em um dia, visitando a Piedra del Peñol e dando uma voltinha no centro, onde ficam as casas coloridas com pinturas de zócalos*.
Eu acabei ficando mais, porque a vista do meu hostel, o Galeria Guatapé, não me deixou ir embora. Entrei pelo portão e dei de cara com um pôr do sol espelhado nas lagoas, que me deixou paralisada. Botei o mochilão no chão e fiquei apreciando toda aquela beleza antes de fazer o check in. Foi um respiro depois de uma semana intensa em Medellín.
Só depois de algumas conversas com o gerente do hostel, eu fui entender que aquelas lagoas desenhadas, lindas, são fruto de uma inundação artificial para a construção de uma hidrelétrica, que causou danos irreparáveis para a comunidade local, desapropriando terras, famílias, e que gera contradições até hoje.
*Uma curiosidade: a palavra “zócalo” significa base/rodapé de uma construção. Em Guatapé eles representam a base das paredes, que são pintadas e viraram cartão postal; mas no México, o mesmo nome é dado para denominar as praças principais das cidades. Isso se explica porque, durante a colonização espanhola, na cidade asteca de Tenochtitlan, foram construir uma estátua no meio da praça, porém só sua base foi concluída, ou seja, seu zócalo. Desde então, as praças mexicanas ganharam esse apelido.
Veja nossas matérias sobre o México aqui.
Saiba todas as dicas para conhecer Guatapé, contando também o que está por trás do boom do turismo local, que tem como pano de fundo a inundação de El Peñol e a tentativa apagamento da memória coletiva.
O que fazer em Guatapé
Piedra del Peñol
O visual é surrealista: uma pedra de 220m de altura, com uma escada de 659 degraus que parece que costura uma rachadura, até o topo, em meio às lagoas inundadas do Rio Nare. Subir a Piedra del Peñol é uma das principais atrações de Guatapé, com uma vista que compensa o fôlego da subida, que é rápida, cerca de 30 minutos, mas não muito fácil por estar a 1925 metros acima do nível do mar.
Quando eu fui, o mirante estava em obra e eu não achei a estrutura muito boa para apreciar a paisagem, mas a vista é tão linda que valeu a pena de qualquer jeito. Atualmente a obra deve ter terminado e, se você for, me conta!
Preço para subir: 18mil pesos.
Se der fome, tem uma lanchonete lá em cima.
Você não precisa chegar até a bilheteria pela estrada principal, do hostel Galeria Guatapé, há trilhas alternativas até lá.
O horário mais vazio é pela manhã, à tarde chegam vários ônibus de turismo.
É possível escalar a Piedra del Peñol, basta entrar em contato com uma das agências de turismo de aventura, como a Colombia Gateway.
Caminhar nas ruas coloridas do centro de Guatapé
Cerca de 15min da Piedra del Peñol fica o centrinho de Guatapé, que também é um dos principais motivos da visita. As casas são todas coloridas, assim como grande parte das cidades pequenas da região de Antiqua, mas o diferencial aqui são o zócalos. Eles são desenhos, pintados na parte debaixo das fachadas das casas com cenários que contam a história da região, desde registros pré-colombianos, indígenas, até marcos na comunidade, como a inundação, o desaparecimento do povoado de El Peñol, além de festas e tradições locais.
Eles começaram a ser feitos em 1919, pelo casal José María Parra e sua esposa Isidora de Jesús Urrea. Depois de 1983, outros moradores também se inspiraram e espalharam as pinturas por todo centro da cidade. O sucesso foi tanto, que hoje, até o governo local incentiva as pinturas.
É possível conhecer toda a história de Guatapé pelos zócalos, que, além de deixarem tudo mais bonito, representam um símbolo de identidade, memória e construção coletiva. Dessa forma, eles mantêm sua cultura viva, o que se tornou ainda mais importante depois da inundação para a construção da hidrelétrica, que eu conto no final da matéria.
Não deixe de visitar a Plazoleta del Zócalo e a Calle del Recuedo, que recria uma rua do povo inundado de El Peñol.
Bate-volta em San Rafael
A 27km de Guatapé fica San Rafael, um vilarejo famoso por ter um dos pedaços mais cristalinos do Rio Guatapé e cachoeiras. Eu acabei não indo, mas há algumas agências que fazem o bate-volta na cidade, junto com esportes de aventura e mountain bike.
Uma dica é a agência Gateway Colômbia.
Fazer passeio de barco e esportes aquáticos no lago
Muita gente vai a Guatapé para curtir o lago. Há os barcos rumberos, que eu acho meio furada, porque levam centenas de pessoas de uma vez só. Alguns hostels e hotéis oferecem outras opções.
Além disso, é possível fazer esportes aquáticos, como stand-up paddle, caiaque, vela e, pra quem quer ficar nos ares e ter a melhor visão panorâmica, paragliding.
Veja também os tours oferecidos pelo nosso parceiro Get Your Guide.
Onde comer em Guatapé
Namastê: o restaurante familiar funciona com duas unidades e serve pratos vegetarianos deliciosos. O Namastê Om fica em frente à estação de barcos rumberos e funciona mais no estilo restaurante. Já o Namastê Vegan Express só tem uma mesa do lado de fora e está localizado dentro do centrinho colorido.
Outros restaurantes: comida italiana no Pizzeria De Luigi, cubana no Casa Cuba, crepes gostosinhos e baratos no Guatacrêp, tailandesa chique no Thai Terrace e, claro, café no Café sin P e Momoto Café.
Onde ficar em Guatapé
Galeria Guatapé: eu acabei ficando duas noites na cidade por conta desse hostel. A estrutura dele, em si, é confortável, mas super simples. O que me deixou apaixonada foi a vista para a lagoa e a Piedra del Peñol, que fica do lado. Eu amei chegar com o pôr do sol roxo-azul-rosa, curtir as noites de jogos de tabuleiro com os outros hóspedes, mergulhar na lagoa, tomar cafés da manhã com um visual que só em foto dá pra entender e o clima de aconchego, que foi essencial depois de dias intensos em Medellín.
Preço: quartos compartilhados a partir de R$64, quartos duplos, R$172.
O Galeria não fica no centrinho de Guatapé, fica antes, bem ao lado da Piedra del Peñol e você tem que pegar um ônibus ou tuktuk, que leva cerca de 15 minutos.
Outras opções de hospedagem
Econômico/mochileiro: Casa Rosa Hostel, Lake View Hostel
Conforto: Hotel Zocalo Campestre, Levit Glamping, Serendipity Hospedaje Boutique
Como chegar a Guatapé por conta própria
É muito simples e barato chegar a Guatapé saindo de Medellín. O ônibus sai da principal estação de Medellín, o Terminal del Norte, conectada pelo metrô da Estação Caribe. Os ônibus locais para Guatapé saem de 30 em 30 minutos e custam 14mil pesos. A viagem dura cerca de 2h e custa 14000 pesos (US$4).
É fácil simples ir por conta própria, mas se você preferir, há a opção de contratar uma excursão a partir de Medellín. Veja as opções com nosso parceiro Get Your Guide.
Por trás da beleza das lagoas de Guatapé: a história da inundação que ninguém conta
Nos anos 1950, assim como o Brasil, a Colômbia passava por uma grande fase de industrialização e produzir mais energia era prioridade de investimento. Por isso, foi feito um projeto de construção de uma hidrelétrica no Rio Nare, que implicaria na inundação de diversos territórios, inclusive de todo um vilarejo, o Pueblo El Peñol.
O local, que depois ficou conhecido como “pueblo inundado”, saiu totalmente do mapa com o projeto que custou 45 milhões de dólares e hoje representa a produção de 4% de toda energia da Colômbia. O único vestígio ainda presente é a cruz da catedral, que pode ser vista fazendo um passeio de barco pela lagoa, indicando onde ficava o povoado.
Processos de desapropriação de territórios dificilmente têm participação de quem mais deveria importar: os moradores. Com projetos em nome da “modernização” e “progresso”, são apagados lugares de memória e afeto, sem consulta popular.
O Pueblo El Peñol, fundado como tal em 1714, já tinha uma história pré-colonial com registros arqueológicos indígenas. Com a hidrelétrica, foram oferecidas casas para a construção de um novo povoado, próximo dali, mas muitas famílias tradicionais se recusaram a sair de seus lares. Chegando ao ponto até, de terem que ser evacuadas quando a inundação de 1,2 milhões de metros cúbicos de água já estava em curso, retirando seus pertences com água na canela e vendo suas casas serem submergidas.
Houve muita resistência por parte dos integrantes da igreja e líderes locais, que chegaram a se reunir em um “Comité Pro Defensa de los intereses de El Peñol”, no qual apresentaram um estudo falando dos impactos sócio-ambientais da inundação, deram alternativas que iriam minimizar o impacto e manter o reconhecimento arqueológico e cultural do território. Porém, em 1978, a proposta foi ignorada e a inundação foi concluída, criando as lagunas, que hoje formam a contraditória paisagem do cartão-postal de Guatapé.
É verdade que foi construído um novo povoado e que a região teve um boom turístico, se tornando uma das principais atrações da Colômbia. Porém, tudo isso a custa de um povo violentado culturalmente, com o desaparecimento de lugares de identificação, modificando as relações com o espaço, apagando a memória afetiva, costumes e tradições.
A cidade de Guatapé, vizinha de El Peñol, acabou sofrendo um pouco menos. Apesar de cerca de 200 casas terem sido desapropriadas para a movimentação de máquinas para construir a hidrelétrica, ela não foi inundada. O efeito disso tudo, foi um incentivo para que os moradores registrassem sua memória através do zócalos, que eu comentei acima que é uma das principais atrações de Guatapé. Eles ajudam a contar e manter viva a história local.
Se você se interessar por esse assunto, vale a pena visitar a Casa Museo e o Museo Historico El Peñol.
Uma curiosidade é que, para fazer o Pueblito Paisa, uma das atrações de Medellín, que recria um povoado tradicional do estado de Antíquia, foram usadas janelas, portas e outros elementos das casas desapropriadas do Pueblo El Peñol. Algumas famílias reconheceram suas portas e janelas, que atualmente fazem parte da decoração da atração turísticas, sem concentimento de seus antigos proprietários.
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