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Cariri: um mergulho cultural no Sertão

por Ursulla Lodi

Atraídas pelos costumes regionais fomos parar na Região do Cariri: passamos por Juazeiro do Norte, Nova Olinda, Crato, Exu, Assaré, Potengi, Santana do Cariri e Barbalha em um roteiro de 6 dias com a Agência de Turismo Comunitário da Fundação Casa Grande, que não poderia ter sido uma experiência mais enriquecedora.

Vem ver como foi esse giro, pra conhecer um cantinho desse Brasil onde a atração principal é a cultura popular!

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Você conhece o seu país? Cada vez que eu conheço um cantinho novo desse paísão eu acho que conheço menos. Uma região é tão diferente da outra… Cada canto um sotaque, um tempero, uma tradição, um folclore, uma cultura popular viva! Brasil emociona. Não adianta ir lá do outro lado do mundo se a gente não dá valor (e muito) pra riqueza que tem aqui.

Foi nesse espírito que partimos pelo Sertão, atrás da vivência do turismo comunitário. Com orçamento fechado e desejos no topo da nossa lista, decidimos fazer um roteiro não muito lógico pela distância, mas que super funcionou embarcando depois dos Lençóis Maranhenses direto pro Cariri Cearense.

O Cariri

O Cariri é o sertão verde da Chapada do Araripe, região divisa dos estados da Paraíba, Pernambuco e Ceará. De lá não sabíamos muito bem o que esperar, mas ao mesmo tempo esperávamos muito. Minha mãe tinha ido pro interior do nordeste quando jovem e sempre me contava como essa experiência junto aos peregrinos em romaria tinha sido especial e enriquecedora, abrindo seus olhos de menina criada na cidade grande para novas realidades, em um país tão diverso e tão desigual.

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Estátua do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte (CE)

Chegamos por Juazeiro do Norte, terra de Padinho Padre Cícero, segunda maior cidade do Ceará que preserva bem a essência do homem Cariri. Mas como é uma cidade relativamente pequena, recebe vôos diretos apenas de São Paulo, Brasília, Fortaleza e Recife.

No nosso caso, como saímos de São Luís,  fomos por Brasília, por ter sido, estranhamente, a opção mais em conta. Rola de ir de ônibus também, mas se prepare para um dia longo na estrada. Pra quem mora no Nordeste vale mais a pena ir de carro, tudo é relativamente perto, apesar das estradas esburacadas.

Nosso roteiro no entanto, através da Agência de Turismo Comunitário vinculada a Fundação Casa Grande, tinha como base Nova Olinda (CE), cidade de 10 mil habitantes à 1h de carro de Juazeiro, conhecida pelas típicas pinturas platibandas de suas casinhas coloridas que foi nosso lar por 1 semana.

A Fundação Casa Grande

Pra quem não conhece, a Fundação Casa Grande é uma ONG cultural e filantrópica que faz um trabalho lindo, transformando toda a região de Nova Olinda. Sua missão é a formação educacional de crianças e jovens protagonistas em gestão cultural por seus programas memória, comunicação, artes e turismo, que desenvolvem através da educação viva, complementação escolar em seus laboratórios de conteúdo e produção. Não é à toa que é super reconhecida.

A formação viva é interdisciplinar, sensibilizando o ver, o ouvir, o fazer e o conviver em sociedade. Com tanta informação passada brincando, as crianças que usam sua fardinha são muito especiais. Nossa recepção foi feita pela Yasmin, menina moleca de 11 anos, que depois de nos guiar pelo Memorial do Homem Kariri (o nome da tribo se grafa com K) nos apresentou o restante da casa, deixando escapar, pra nosso espanto, que seus cineastas favoritos eram Kubrick e Chaplin.

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Foto de Samuel Macedo, que além de ótimo fotógrafo também é um antigo menino da Casa.

A visão da Casa é levar o mundo ao Sertão e daí surge a ideia da Agência de Turismo Comunitário dirigida por antigos meninos da fundação. Os turistas ficam hospedados em pousadas domiciliares das famílias das crianças, gerando renda para a população local.

Assim, ao chegar em Nova Olinda, o turista é acomodado na residência de uma das famílias que fazem parte do programa. No total são 10 famílias com pousadas domiciliares e 16 quartos. Os demais cômodos da casa são compartilhados entre a família e o visitante, permitindo uma imersão verdadeira.

No meu caso, fiquei hospedada na casa da família da Dona Evânia, que era um amor de pessoa! Cozinheira de mão cheia que fazia sempre vários quitutes pra gente, cuzcuz, tapioca, baião de dois, inclusos na pensão completa. Nos sentimentos como parte da família e deixamos uma mãe no Cariri.

Durante o Dia, conhecíamos a região indo nas atrações turísticas: as pessoas e os mestres da região:

Em Assaré, cidade do Poeta Patativa, tivemos um show particular do Seu Chico Paes, que com 91 anos é um dos poucos tocadores de sanfona pé de bode (8 baixos) ainda vivos.

Em Potengi, cidade dos ferreiros, conhecemos Seu Antônio Luis, mestre brincante do Reisado de Caretas e Seu Françuli, inventor do sertão que tem seu próprio museu de aviões de brinquedo.

Em Exu, Pernambuco, cidade de Luiz Gonzaga, comemos um Bode Assado bom por demais antes de visitarmos o Museu do Gonzagão, o Parque Asa Branca.

Em Juazeiro, terra de Padre Cícero, visitamos além de sua estátua e memorial, a academia de cordel.

Em Barbalha, conhecemos Dona Geni e seu engenho de rapadura, que nos encheu de doces.

Em Nova Olinda, conhecemos Seu Espedito Seleiro, mestre nas confecções de couro – hoje famoso pelo Brasil todo e prestigiado em grandes marcas cariocas como a Farm e o Cantão – Seu Zé Arthur e sua esposa Dona Bastinha, que fizeram a primeira agrofloresta da região, Dona Lúcia dos Doces, Dona Dinha das Redes e muitas outras figuras e histórias que nos faziam nos sentir presas numa história viva de cordel!

Veja mais fotos no post Rostos do Cariri.

E tem beleza natural também: em Santana do Cariri adentramos na Chapada do Araripe, um oásis verde no meio do Sertão conhecido pela produção artesanal de óleo de babaçu, sem falar da Ponte de Pedra que conta a lenda dos índios Kariris, dá acesso ao Castelo Encantado da mãe d’água.

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Museu do Gonzagão, em Exu (PE)

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Máscaras do Reisado de Caretas, em Potengi (CE)

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Cozinha da casa de Seu Antônio Luis, onde sua esposa Rosinha nos serviu uma galinhada.

Sem dúvidas foi uma experiência única e maravilhosa, que jamais esqueceremos. Memória e cultura narradas por gente de verdade. No nosso coração fez morada o Sertão! <3

Informações e valores:

Preço do Pacote completo: refeições, transporte e hospedagem:  R$810.
Agência de Turismo Comunitário: (88)9729-4103 (Fala com o Júnior)
site: turismocomunitariofcg.wordpress.com

Bom giro! 

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1 Comentário

Rostos do Cariri – Gira Mundo 29/08/2016 - 23:12

[…] pela cultura popular e pelos costumes do Sertão, fizemos o roteiro da Agência de Turismo Comunitário, associada a Fundação Casa Grande. Com a visão de levar o mundo ao Sertão,  a principal […]

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