Home Belize Atravessando fronteiras terrestres: cicloviagem trecho Bacalar, Quintana Roo para Belize City

Atravessando fronteiras terrestres: cicloviagem trecho Bacalar, Quintana Roo para Belize City

por Ursulla Lodi

Mas não é que a vida tem essas surpresas loucas?! Este post fala um pouquinho do trecho Quintana Roo – Belize, onde conhecemos Bacalar, seguindo viagem rumo ao Sul, chegando neste pequeno país de águas azuis que pouco se houve falar chamado Belize.

São destaques de águas azuis da cicloviagem mexicana junto do @bikemyself, onde pedalei mais de 1000km entre a Cidade do México e Havana, Cuba, atrelando turismo sustentável, disseminação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, nos hospedando sempre que possível com locais através de plataformas como Couchsurfing, Warm Showers e apoio da AIESEC México.

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Chegando em Bacalar

Confesso que mesmo já tendo ido anteriormente para o México, não conhecia muito sobre este cantinho de lagoas azuis cristalinas. Viajar de bicicleta nos permite mudanças de planos repentinas, o tempo é mensurado em outros parâmetros, a paisagem é vista de outra forma e os diálogos trazem dicas e oportunidades. Bacalar foi um pouso de última hora que adorei conhecer.

Diferente de outros lugares no estado de Quintana Roo, como Tulum, Playa del Carmen, na Riviera Maya, sem falar na super turística Cancun, o destino de águas doces não é tão explorado pelo turismo internacional, trazendo um sentimento de maior autenticidade. Um alívio, já que em muitos lugares do Sul do México, sobretudo nesta parte caribenha, é difícil fugir do modelo resort e da sensação de artificialidade que veio junto com o pacote turístico americano.

Depois de um chicken bus e de muita negociação para conseguir colocar as bicicletas na mala de um ônibus de segunda classe saindo de Palenque, chegamos de madrugada em Bacalar. Esperamos o dia amanhecer virados, colocamos os alforjes e fomos atrás de hospedagem, pois, como chegamos no meio do feriado da Páscoa, ficamos sem opções de couchsurfing. Foi perrengue, mas deu tudo certo. Entre muitas pousadinhas lotadas, achamos um camping de emergência onde arranjamos uma barraca e fomos aproveitar o que tinha de bom por lá.

O que fazer em Bacalar

Bacalar é uma ótima opção se você quer fugir do turismo badalado da região litorânea e curtir um pouquinho de tranquilidade. É bem verdade que a cidadezinha estava lotada por conta do feriadão, mas a impressão que tivemos trocando ideia com o pessoal local, é que tratava-se de um destino de férias dos mexicanos, que fora das datas festivas é bem pacato.

Outro diferencial é que não se trata de um destino de praia, isso mesmo, essas águas lindíssimas são doces! Ideal para o descanso e nadar em águas rasas antes de seguir para Belize.

águas caribenhas doces: a laguna de las 7 colores

A principal atração e o cartão postal do pueblito é a Laguna de los 7 Colores, bem em frente ao centrinho da cidade, onde ficam a maioria das opções de hospedagem. Num primeiro momento é quase inacreditável aquela água toda cor azul caribe ser doce e morninha. O melhor a se fazer é justamente boiar e curtir uma redesenha, ou um dos decks que dão para suas águas, ou fazer esportes aquáticos diversos como caiaque e kitesurf.

Outra opção bem legal é  fazer um passeio de veleiro indo até o Canal dos Piratas, que liga a Lagoa ao mar caribenho, os passeios tem, normalmente, duração de 2 horas e você pode e deve negociar o valor.

Mas, além da Laguna de los 7 Colores, tem muita coisa bacana para conhecer. Outro destaque é o Cenote Azul, um canal de 200 metros de profundidade de tons azuis marinhos. Fomos até lá pedalando – uma grande vantagem de viajar de bicicleta é ter sempre seu transporte privativo. 🙂

Não deixe de conhecer também o forte da cidade, o Forte Bacalar, que nos remete aos tempos em que o destino era um grande alvo de pirataria na região caribenha, ao longo do século XVII. Do forte vemos uma das melhores vistas da Lagoa.

Para quem não quer perrengue – outras opções de hospedagem em Bacalar com um pouquinho mais de conforto:

Escrevemos para todos os tipos de viajantes. Outras opções:

Hostal & Suites Pata de Perro ($) – opção de quartos compartilhados e privativos com clima descontraído.

Hotel Maria Maria ($$) – uma ótima relação custo benefício para quem não quer gastar muito, mas não abre mão de conforto e boa localização.

Casa Chukum Hotel Boutique ($$$) – uma das opções mais procuradas do pueblo mágico, moderninha e com preço justo.

Mia Bacalar Luxury Resort & Spa ($$$$) – o nome já diz tudo, se quer aproveitar dias inesquecíveis num resort-spa, este é o lugar certo.

Distâncias de Bacalar:

Bacalar fica à 180km de Belize City, 215km de Tulum, 280km de Playa del Carmen e 345km de Cancún.

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De avião, o aeroporto mais próximo a Bacalar é o Aeroporto Internacional de Chetumal, que fica a 40 km de distância. Alguns hotéis em Bacalar oferecem serviço de transfer ou você pode pegar um ônibus ou um táxi para chegar à cidade.

Caso você não esteja de carro (ou de bike!) – ônibus no México e em Belize:

Se você procurar na internet, vai achar apenas os ônibus de primeira classe da ADO. O serviço deles é ótimo, tendo normalmente uma rodoviária própria da empresa. Sem dúvidas a melhor alternativa para cruzar o México, com preços muito mais econômicos do que o transporte aéreo. Sem falar na praticidade, já que as rodoviárias ficam bem no centro das cidades e são muitos destinos, relativamente próximos, para serem visitados num país que tem tanto para oferecer.

💡 No entanto, se estiver viajado low-cost como a gente, o melhor a se fazer é perguntar onde fica a rodoviária dos ônibus de segunda classe da cidade onde está. Nestas você consegue comprar passagens por até 1/3 do preço da ADO para o próximo horário, não sendo necessária a reserva antecipada. Depois que descobrimos esta alternativa, começamos a optar pela economia, mesmo que com menos conforto. A vantagem, é que pelas estradas e paradas, vi um México interiorano, mais autêntico ainda.

Seguindo viagem para Belize

Depois do descansinho merecido para as pernas, seguimos viagem pedalando cerca de 46km até Corozal, já em Belize. Fazer uma imigração de bicicleta é no mínimo atípico, chamado atenção das autoridades que cismaram em checar minuciosamente se não carregávamos nada no interior de nossos quadros. Acho que esta foi a fronteira e o carimbo mais legal que tenho no passaporte.

💡 Uma observação a se fazer é que saindo por terra do México, se entramos por via aérea no país, é necessário pagar uma taxa de cerca de 500 pesos por pessoa, o que dá aproximadamente 100 reais. Considere esta despesa no seu planejamento.

Chegando em Corozal, tivemos o primeiro impacto de estar em um país de colonização totalmente diversa da Mexicana, tendo que acostumar os ouvidos ao inglês caribenho, depois de mais de mês de quase fluência no espanhol. Para conseguir chegar em Belize City ainda com luz do dia, onde tínhamos o Léon, nosso host do Couchsurfing, nos esperando, optamos por pegar um ônibus.

Viajando de Couchsurfing

Se você tem interesse em trocar com pessoas locais, viajar de Couchsurfing pode ser uma experiência muito enriquecedora! Utilizamos muito a plataforma nesta viagem e ultimamente tem sido minha principal opção, não só pela vantagem de não ter um gasto com hospedagem, mas, sobretudo, pela possibilidade de ser abraçado pela cultura e pela generosidade das pessoas. Falo um pouquinho mais neste post.

Chegando em Belize City

É certo que o objetivo da viagem é pedalar o máximo possível, mas com um tempo limitado e muitos lugares para conhecer, é necessário colocar na balança sempre o que vale à pena. Este trecho seguinte seria bem longo e nos arriscaríamos chegando em Belize City, uma cidade com fama de não ser muito segura. Na rodoviária de Belize City, tivemos até mesmo um alforje atropelado – e um HD externo com muito material produzido danificado. O dia foi longo… ia escurecendo e já estressados conseguimos achar o León.

Como mencionei, tivemos muitas experiências de couch durante esta viagem. Mas esta sem dúvida foi uma das mais marcantes. Deixo aqui o texto postado por mim na época, contando um pouco desta história, como um incentivo para viajar localmente:

💬Ursa: Vou contar um pouco como tem sido essa aventura de viajar de bicicleta tentando conhecer a realidade local, em busca de impacto sustentável junto do @bikemyself. Esse ai na foto é o Léon com sua bicicleta, nosso host de ontem no couchsurfing. Após um dia cansativo, depois de uma noite virada num ônibus de segunda classe esperando amanhecer num posto de gasolina saindo de Palenque e outra acampando em Bacalar, mais muitos kms pedalados em baixo de um sol de rachar o coco, uma fronteira atravessada (de bike!), uma bicicleta que caiu dentro d’água e quase se foi, e um alforje atropelado, chegamos em Belize City. O lugar não é exatamente bonito, já que nos colonialismos atuais a economia é movida por USD na parte caribenha paradisíaca e turística do pequeno país. Muito pergunta daqui e dali, um telefone emprestado para uma ligação – antes que escureça, pelo amor da deusa – e chegamos na sua casa. Depois de mais de um mês dormindo praticamente todos os dias com locais e muitos pequenos perrengues enfrentados, ainda sim foi um baque a dureza da realidade e a vontade de nos ajudar, quando ele que precisava de mais ajuda. Acontece que o León é guia turístico certificado, tinha um barco que se perdeu no furacão que rolou por aqui em 2016 e desde então vem tentando dar um jeito na situação com muitos trancos e barrancos. Mas sabe, ele nos deu uma cama, lençóis limpos, uma coca cola e muitas histórias, ensinando muito sobre esse cantinho de planeta desconhecido, pedindo desculpas desnecessárias pela sua casa, quando era a gente que tinha que pedir desculpas por não poder fazer algo maior por aquela pessoa que nos deu aula de humanidade. “I don’t like to refuse anybody, because can be someone that will help me too, and I like to help people” – traduzindo: “eu não gosto de negar nada a ninguém, porque pode ser uma pessoa que me ajude também e eu gosto de ajudar pessoas”. Quanto menos se tem, mais generoso se é. Obrigada, León, pela hospitalidade, por nos apresentar sua vida e por nos enriquecer como viajantes, nos lembrando de ser gratos e humildes. Só tenho a agradecer por todos esses encontros e crescimentos e desejar que sua generosidade abra seus caminhos. Sua beleza se transforma em você.

Léon, nosso host, na frente de sua casa.

Segurança em Belize City:

Este é um tópico um pouco controverso. Numa primeira impressão, compreendi o feedback negativo que Belize City tem. A cidade é de fato bastante precária e suja, com muita gente abordando e olhando de forma hostil, ou apenas com curiosidade. Foi um pequeno baque chegar na  rodoviária, com um sentimento de insegurança, ainda mais com o incidente do HD externo atropelado pelo ônibus, enquanto remontávamos as bikes. A minha recomendação é não sair a noite sozinh@ e andar sempre atento, mantendo-se nas ruas principais, mais movimentadas e iluminadas.

Mas, para entender um pouco de Belize acho que é necessário um pouquinho de contextualização deste pequeno país da América Central de águas azuis, que pouco se ouve falar:

Se você nunca ouviu falar de Belize, poderíamos traduzir como um lugar paradisíaco e um tanto quanto distópico. O turismo, tocado quase que exclusivamente por empreendimentos estrangeiros, é totalmente direcionado para as ilhas, enquanto a população continental carece de muito. Por aqui, assim como na Jamaica, fala-se inglês com acento caribenho, já que tratava-se de uma pequena colônia inglesa produtora de cana de açúcar. Além dos dólares locais, muitos lugares aceitam USD, o que torna os preços mais altos do que você esperaria. Como esperado, a maioria da população é negra, descente da mão-de-obra escrava. Ou seja, atravessamos uma fronteira de bicicleta e tudo ficou diferente!

Caye Caulker, Belize, Girls in bikes

Por aqui, sentimos que os tempos de pirataria apenas mudaram. Das características do nosso imaginário dos Piratas do Caribe para o paraíso fiscal. No início dos anos 90 o governo local mudou as regulações para tornar-se um tax heaven offshore, atraindo o turismo estrangeiro e muita circulação de mercadoria duvidosa.   Ter de cara esta experiência e passar uma noite em Belize City foi bastante interessante para atinar brevemente sobre o novo contexto que nos era apresentado depois de uma temporada mexicana.

Onde ficar em Belize City:

Se procura um hotel ou um destino uma dica-amiga: ficar em Belize City é um pouso para continuar a viagem para as ilhas, a cidade em si não tem nenhum atrativo turístico. Trata-se de uma cidade pequena, simples e um pouco confusa. Um engano comum é pensar que esta é a capital do país, transferida nos anos 60 para Belmopan, cidade administrativa. Mas é bom saber da possibilidade de fazer bate-e-voltas para conhecer os sítios arqueológicos Maias, o que super recomendo, caso tenha tempo. Existem também opções de passeios de caiaque em grutas, o que pode ser interessante.

Uma opção recomendada, simples e barata de hospedagem é o Belcove Hotel & Guesthouse, de onde você pode ir andando até a estações de lanchas para as ilhas – San Pedro Belize Express Water Taxi. Sem luxo, mas sem perrengue.

Mas por que visitar Belize? 

Apesar de todas estas questões, Belize é um caribe acessível, sobretudo por sua porta de entrada ser continental, o que facilita muito vôos e deslocamentos terrestres. Suas ilhas, San Pedro e Caye Caulker são lindíssimas e por aqui você vai poder ver muita vida marinha preservada.

Se você mergulha, assim como eu, nem se fala. Apenas o Blue Hole, o maior buraco azul do mundo, que fica em sua costa já justificaria a viagem. Mas já deixo a dica que conhecer o Blue Hole pode ser caro. Para mergulhar em seu interior é necessário experiência em mergulho profundo. Se não mergulha, outra possibilidade é sobrevoá-lo.

Sem falar da possibilidade de um turismo diversificado, explorando os sítios arqueológicos Maias como Caracol, Altun Ha, Xunantunich, Santa Rita, Cohal Pech, na região de Orange Walk e toda a fauna e flora local de sua parte continental.

Estávamos com saudade do mar, depois de 1 mês viajando longe do litoral passando por muitas zonas arqueológicas Maias, optamos por conhecer as ilhas de San Pedro e Caye Caulker, destino da maioria dos viajantes, cuja a porta de entrada é Belize City. Para saber mais de Belize e do que fazer nas Ilhas, conto mais num próximo post.

Bom giro! 

 

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