— Post atualizado com valores de 2021 dos atrativos.
Você pode nunca ter ido para a Chapada dos Veadeiros, mas, certamente, já viu uma foto da lindíssima Cachoeira Santa Bárbara, famosa por sua cascata azul-turquesa. Guardada no interior do território do Quilombo Kalunga, no município de Cavalcante, no Goiás, esta que é considera uma das mais belas cachoeiras do Brasil, não é sequer o principal motivo para você incluir o município na sua visita à Chapada.
Confira neste post muitas dicas para conhecer o município de Cavalcante!
Apesar das principais cidades-base da Chapada dos Veadeiros serem, a mais estruturada e turística, Alto Paraíso de Goiás e a charmosa vila de São Jorge (onde fica a entrada do Parque Nacional, que até um passado recente mantinha seu clima roots de ruas de terra e Encontros de Cultura, mas que na atualidade te se gourmetizado), as pessoas estão começando a descobrir os encantos de Colinas do Sul e de Cavalcante.
Cavalcante é um município pacato, que embora seja muito explorado por uma mineração agressiva, até então, ainda não era tão conhecido pelo turismo – mesmo que estejam em seus limites mais de 60% da área do Parque. Isto mudou com a instagramização de suas cachoeiras: em Cavalcante ficam algumas das mais belas cachoeiras da Chapada, sem mencionar o patrimônio histórico-cultural quilombola, sendo aqui aquele que hoje é o maior quilombo do Brasil, o Quilombo Kalunga, símbolo de resistência e da luta quilombola no país.
Um pouco mais da história de Cavalcante e do povo Kalunga
No início do século XVIII, durante a febre do ouro de Minas Gerais, a ambição dos bandeirantes adentrou o sertão, avançando sobre o Cerrado, chegando, em 1722, às terras que chamariam-se de Minas dos Goiases, nome dado em função de um povo indígena que vivia na região. Inicia-se então o ciclo da mineração na região utilizando e torturando mão de obra negra, escravizada.
A única saída para estes era a fuga. Para evitar a recaptura, os fugitivos tinham que ir cada vez mais longe, refugiando-se no relevo acidentado da região da Chapada dos Veadeiros, onde estabeleceu-se, pois, o território Kalunga, protegido por serras e com água farta. Esta região também servia de refúgio para diversos povos indígenas que fugiram de seus territórios com a chegada dos colonizadores, no entanto, o temor mútuo e a dificuldade de comunicação – já que os índios entendiam que os negros faziam parte do mundo dos brancos – fez com que ambas as partes se mantivessem isoladas.
Atualmente a área Kalunga, situada no nordeste do município de Cavalcante, possui mais de 230 mil hectares de cerrado protegido, sendo a maior comunidade remanescente de quilombo do Brasil, com cerca de 4.000 cidadãos que só tiveram contato com o país há menos de 30 anos, já que mantiveram-se isolados.
Foto: Sérgio Amaral, Acervo Ministério da Cultura
Foi em 1982, quando um grupo de antropólogos chamou atenção para a construção de uma usina hidrelétrica no Rio Paranã, que iria desabrigar centenas de famílias do povo Kalunga, que estabeleceu-se o contato. Dizem os relatos que estes não tinham ciência do fim da escravidão até então, desconhecendo até mesmo o papel-moeda, já que viviam da auto-subsistência. O projeto da hidrelétrica foi cancelado e décadas depois, o território foi titulado Sítio Histórico e Patrimônio Cultura Kalunga.
Hoje os Kalunga são um povo mágico de forte sangue negro que protege a natureza que lhe rodeia e vive do ecoturismo. Conhecer este legado, ao meu ver, fora a beleza natural da própria terra, é a principal razão para conhecer e proteger Cavalcante. Existem diversos projetos em curso que ameaçam a saúde dos rios e soberania desse povo.
As cachoeiras do Quilombo Kalunga
São algumas das mais belas cachoeiras de toda a Chapada dos Veadeiros. Para visitá-las é imprescindível o guia Kalunga, todo o arranjo dos grupos é feito no Centro de Atendimento ao Turista, o CAT da comunidade, onde também pagamos as entradas das cachoeiras a serem visitadas.
Apesar de existirem mais de uma centena entre pequenas e grandes quedas, muitas ainda inacessíveis, são três os atrativos turísticos dentro do Quilombo: Santa Bárbara, Capivara e Candaru.
Cachoeira Santa Bárbara
A mais famosa de todas, sobretudo, pela cor de sua água é a cachoeira Santa Bárbara. A queda, que mais parece um quadro, é linda de morrer, mas costuma ficar muito cheia, sobretudo em feriados e durante a temporada. Por este motivo e para evitar o impacto, estabeleceu-se um limite de 150 visitantes por dia, além do tempo de 1 hora por grupo.
Não deixe de ver também a pequena Santa Barbarazinha, em sua entrada.
Recomendo fortemente visitá-la assim que abrir o CAT, já que pela manhã bate mais luz em seu interior, fechado e acolhedor, tornando o azul-turquesa ainda mais intenso, ou por último, no contra-fluxo, quando você pode dar a sorte que eu dei de pegar ela vazia, só para a gente. Na minha opinião ainda melhor.
Trilha: pode ser considerada moderada ou fácil, o percurso pode ter entre 1 e 6 km. Explico a diferença: dependendo das condições da estrada e da disposição do motorista, é possível chegar bem pertinho da entrada da trilha com o carro. No entanto, quando o percurso está muito ruim, sobretudo na época de chuvas que um pequeno córrego se forma cortando a estrada, normalmente o carro fica lá embaixo.
Cachoeira da Capivara
Eu tenho um carinho absurdo por esta cachoeira. Para mim é uma das minhas favoritas da Chapada, parecendo que foi até desenhada por um paisagista. Na Capivara, dois rios se encontram, o Rio da Capivara e o Tiririca, formando um único poço na beira de um penhasco lindíssimo. O curioso é o diferente formato e temperatura das quedas.
Trilha: Para chegar é bem tranquilo, fica a 900 metros de distância da Santa Bárbara.
Cachoeira Candaru
Só conheci essa cachoeira na minha segunda visita ao Quilombo e ela é maravilhosa. São 70 metros de uma imponente queda d’água que forma um delicioso poço para banho. Talvez, pela trilha ser um pouquinho maior, muita gente não a conhece. Mas a boa notícia é que dá para ir nessas três em um único dia.Trilha: Cerca de 3km, já que o carro tem que ficar no início do acesso para a cachoeira.
Não deixe de comer no Restaurante e Camping da Dona Minalci dentro do Quilombo. Comida caseira direto da horta, com opção vegetariana, no estilo coma o quanto quiser por R$50. Delicioso! É no camping dela que eu costumava pernoitar para visitar o Kalunga.
Reabertura após fechamento na pandemia e novos valores:
Com a mudança para a Chapada em 2021, fiz questão de atualizar os valores das porteiras dos atrativos. Como não ter o conteúdo de onde fizemos morada atualizado?
As cachoeiras do Kalunga reabriram recentemente em junho de 2021 (estavam desde o início da pandemia fechadas) com alterações nos preços e número de visitantes limitado em 25%. Seus ingressos são vendidos agora exclusivamente online, evitando as filas na madrugada que outrora estavam se formando.
Fiquei um pouco abismada com a alteração do preço dos ingressos destas cachoeiras do Engenho II: a Santa Bárbara, por exemplo, que em 2018 custava R$20 (mais R$150 do valor da diária de guiada por grupo), agora custam de R$198 à 385 por pessoa, sendo vendidos em pacotes que podem incluir uma, duas ou as três cachoeiras do Engenho II.
Em nota emitida pela AQK, Associação Quilombo Kalunga, os valores incluem: entrada nos atrativos, translado interno, guia condutor, seguro de vida, taxas municipais e alimentação opcional.
“Os preços subiram e a razão é a pandemia. Estamos fechados desde o dia 17 de março de 2020 em nome da saúde da comunidade kalunga e dos nossos visitantes. Com a decisão pela reabertura dos atrativos no dia 21 de junho, nosso custo de operação aumentou, devido às adaptações necesárias durante a pandemia e à a contratação de pessoal. Além disso, vamos começar recebendo apenas 25% do número de visitantes que tínhamos antes. Também estamos em fase de teste do nosso novo sistema de vendas, 100% online. Teremos tarifas mais baixas fora da temporada e vamos readequar os preços quando tudo normalizar.”
Quem ficar hospedado na comunidade Kalunga do Engenho II, uma das 39 comunidades do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga e responsável pela administração da Santa Bárbara, Candaru e Capivara, tem um desconto de 20% nos passeios.
O incentivo é para que os turistas mergulhem no universo Kalunga e conheçam sua cultura e modo de vida, além das paisagens. Quem estiver hospedado no município de Cavalcante tem desconto de 10% nos passeios. Moradores de Cavalcante, Teresina e Monte Alegre não pagam pela entrada nos atrativos. Crianças de até 12 anos também não pagam entrada e têm desconto de 50% no almoço.
Checar no @quilombokalunga.aqk para desconto.
Foi montada uma barreira sanitária antes da chegada dos visitantes na comunidade Kalunga do Engenho II, de onde os condutores e turistas partem para os passeios. Só é possível entrar na comunidade portando o voucher comprado pela intenet, que tem horário marcado, e após a medição de temperatura e oxigenação.
Da minha parte restou, por um lado a compreensão de que é uma comunidade que protege o Cerrado e necessita de reparação histórica, ainda mais num momento pandêmico em que se viu obrigada a manter as porteiras fechadas (reabrindo apenas agora, com quase toda a população de Cavalcante já vacinada), por outro, a pequena tristeza de ser um atrativo inacessível, ou acessível apenas para um tipo de turismo que não combina com a Chapada.
O preço da foto do Instagram. Tem quem pague. Talvez nos reste esperar, se não quisermos desembolsar essa quantia.
O Rio Prata e as magníficas quedas do Rei e da Rainha
Distante 65 km de estrada de terra de Cavalcante, já quase na fronteira com o Tocantins, O Rio Prata possui uma sequência de 7 quedas cor de esmeralda, sendo as duas últimas as famosas Rei e Rainha do Prata. As 5 primeiras quedas ficam numa distância de 2km de trilha, o que torna um passeio atrativo para famílias. Importante mencionar que o acesso é dividido, sendo uma porteira para as cinco primeiras quedas e outra para o Rei e para a Rainha, dando um total de 7km até a última queda.
O Rei é uma queda esplendorosa, com um poço bem verdinho enorme, magnífica. E a Rainha, uma cachoeira que, na verdade, o acesso é limitado, de modo que os turistas passam apenas em seu mirante. De qualquer maneira a trilha é bonita e todas as quedas, mesmo as menores, são muito gostosas.
Apesar da trilha ser tranquila, ultimamente tem sido obrigatório o guia para explorar o rio, portanto, se tiver interesse, deixe pré combinado antes de ir. Como não sabíamos disso, acabou que demos a sorte de encontrar um grupo chegando que nos juntamos. Me recomendaram também o Fabiano: (62) 9900-1074, que cobrava, em 2018, R$150 por grupo, ou R$25 por pessoa, mas como todos os atrativos, provável que estes valores tenham também subido.
Para chegar até lá é melhor pernoitar em Cavalcante, destinando ao menos dois dias de viagem completos para explorar a região, sendo um no Quilombo e outro no Rio da Prata, até porque é chão até lá! Nesta viagem, acampamos pertinho da propriedade para poder aproveitar o dia e depois seguimos voltando para o Quilombo, onde dormimos no Camping da Dona Minalci e destinamos o dia seguinte para ir na Santa Bárbara, Capivara e Candaru, voltando depois à noite para São Jorge.
Como chegar: Saindo de Cavalcante são 65 quilômetros por estrada de terra até a entrada, à esquerda. É a mesma estrada que leva para o Quilombo Kalunga, no quilômetro 25.
Valor da porteira: R$90
Trilha: Considerada moderada, ida e volta, dão em torno de 10km – que, no entanto, não podem ser subestimados se o sol estiver forte. Obrigatório o guia!
Além destas cachoeiras, consideradas as principais, não faltam atrativos em Cavalcante: a grandiosa Veredas (R$50), Ponte de Pedra (R$30), Vargem Redonda (R$40, guia obrigatório), Ave Maria (R$30), São Félix (R$25) e Canjica (R$35, guia obrigatório), são alguns abertos para o público.
Bate e volta ou dormir em Cavalcante?
É chão. Já passei por ambas as experiências enquanto turista. Passando uma temporada, durante a época do Encontro de Culturas, acampando em São Jorge larguei minha barraca por lá e fui passar uns dias em Cavalcante, indo pro Prata e Quilombo. Já teve viagem, bem mais corrida, em que fiz apenas um bate e volta, saindo de São Jorge, para conhecer o Quilombo.
Se você está com pouco tempo, está é uma opção super válida! Mas, agora, se está mais tranquilo, recomendo muito ficar por aqui por alguns dias para conhecer mais da região que possui várias outras cachoeiras, sua história e ter tempo de ir ao menos até o Rio da Prata, que de fato fica corrido para bate-voltas.
Onde se hospedar em Cavalcante
Uma ótima dica é a Pousada Vale das Araras ($$$), cujos chalés aconchegantes ficam dentro da Reserva Particular do Patrimônio Natural Vale das Araras – quem se hospeda aqui pode fazer várias trilhas e até ir na cachoeira São Bartolomeu, que fica dentro da propriedade. Outra opção é a também confortável Pousada Manacá ($$$), mais central.
Mas uma dica que dou, se quiser uma experiência mais autêntica e não se importar em acampar, é dormir no Restaurante e Camping da Dona Minalci, dentro do Quilombo Kalunga, podendo conhecer com mais tranquilidade, aproveitando para já acordar por lá. O pernoite custa R$25 e o grande destaque é a proprietária, Dona Minalci, e sua deliciosa comida. Super recomendado.
Reserve com nosso link do booking.com, você ganha descontos e ainda ajuda a manter o blog no ar!
Como chegar em Cavalcante
Localizada a 322 km de Brasília, a 498 km de Goiânia e a 85 km de Alto Paraíso, a melhor maneira para se chegar a Cavalcante é de carro. O acesso a cidade é feito pela estrada GO-118. Depois que passar por Alto Paraíso, você deve seguir mais 65 km até Teresina de Goiás, de onde você pegará um trecho de 20 km até Cavalcante.
Alugue seu carro com nosso parceiro RentCars e ajude a manter o blog no ar!
Para quem vai de ônibus, a viação Santo Antônio opera os trajetos de Brasília, saindo da rodoviária do plano piloto, até Cavalcante (passando por Alto Paraíso). Outra opção é pegar um ônibus da viação Real Expresso para Teresina de Goiás, de onde você deverá pegar outra condução para Cavalcante.
Para mais dicas da Chapada dos Veadeiros veja também:
Chapada dos Veadeiros: tudo o que você precisa saber antes da sua viagem
Chapada dos Veadeiros: trilhas e passeios imperdíveis
4 Comentários
Oi, as cachoeiras estão abertas por agora, nesses dias de pandemia?
Att.
Oi Rogerio, tudo bem?
A recomendação é não frequentar as cachoeiras e a Chapada durante a pandemia, porque eles estavam sem casos e, devido ao turismo, algumas pessoas foram infectadas :/
Aqui a campanha deles:
https://www.instagram.com/p/CBLhaPuh2DA/
Oi, queria saber mais detalhes como faz para visitar a comunidade indígena.
Vocês saberiam?
Obrigada!
Oi, Ana. Qual comunidade indígena? Se trata-se da Aldeia Multiétnica, este é um evento que reune a liderança de muitas tribos do país, em Alto Paraíso, uma vez ao ano, junto do Encontro de Culturas. No entanto, tanto em 2020, quando em 2021 o evento está suspenso por conta da pandemia. Espero ter ajudado. Eu moro em Alto Paraíso, se precisar de mais alguma informação, pode perguntar que respondemos!