Este é um post para inspirar uma viagem para o Myanmar, a antiga Birmânia, seja em corpo físico ou virtual
Já se pegou pensando quantas formas diferentes existem de viver esta vida?
Se dentro de um grupo de amigos já nos deparamos com diferentes existências, quem dirá no âmbito espacial de uma cidade com tantas subculturas, de um país – no caso do Brasil, continental e tão desigual – do outro lado do mundo!
Agora viaja um pouquinho com a sua mente e imagina no Myanmar: com uma cultura totalmente diferente da nossa que apenas se abriu para o ocidente há pouco mais de 5 anos depois de mais de meio século fechado por um regime militar.
Acho que é esta curiosidade uma das forças que habita em mim e move a minha própria existência. Conhecer o novo, o verdadeiro, o cru é se deparar com uma nova possibilidade de viver, nunca antes imaginada. É neste sentimento que mergulhamos ao viajar pelo Myanmar, a Terra Dourada que é inspiração pura.
Myanmar: uma experiência cultural verídica
Durante a fase de preparativos da minha viagem para o oriente, um dos lugares que eu mais esperava conhecer era o Myanmar, sobretudo pela possibilidade de uma experiência cultural autentica, em um país que ficou tantos anos fechado. Sonhava com os famosos campos repletos de pagodas dourados de Bagan, com o balé dos pescadores de Inle Lake e o que posso dizer do fundo do meu coração é que este foi um dos lugares que mais me marcaram como viajante, não só pela realização destes sonhos.
No Myanmar o que você vai ver não necessariamente será belo, mas te garanto que será verdadeiro, real. Por lá nos deparamos com as verdades nuas e cruas de um país que se mostra resiliente diante do turismo higienista que bate em suas portas com maquininhas de cartão de crédito. Esta vivência nestes cenários inéditos que me encheu os olhos e ainda me emociona ao revisitá-lo ora em palavras.
Mais sobre o Myanmar: muita história pra contar
Myanmar, Mianmar, Burma ou Birmânia é um grande país de 55 milhões de habitantes do sul da Ásia, que faz fronteira com a China, Tibet, Butão, Bangladesh, Índia, Tailândia e Laos.
Justamente por estar no meio de tantos povos tão diferentes, sua cultura é híbrida, sendo igualmente diversa e rica, mesmo tendo permanecido fechado por tanto tempo. Na verdade, neste prisma, o isolamento acabou por preservar sabedorias milenares das interferências globalizantes ocidentais.
Digo fechado, pois o país apenas começou a se abrir para o turismo estrangeiro de fato em 2012, causando um crescimento exponencial no número de turistas e o início de um processo de intensas e rápidas transformações que acabam por ameaçar esta nuvem de pureza que ainda paira pela Terra Dourada.
Mesmo com este boom do turismo, Myanmar recebe apenas 1% do número de turistas de sua vizinha Tailândia, o que torna esta a hora certa de conhecê-lo se você também procura autenticidade nos seus voos.
O país que era uma área de influência da cultura indiana, foi unificado pelo budismo no século XI, abandonando a tradição hinduísta. Neste ínterim, a região foi também brevemente dominada pelo Império Mongol, o que explica muito algumas iguarias típicas – como a carne de búfalo, a apreciação das vísceras e a deliciosa salada de folhas de chá.
Durante os séculos XIII e XIV dinastias oriundas do Sul da China e do Sudeste Asiático, instauraram a tradicional cultura birmanesa, sendo neste período que se ergueram os templos de Bagan.
Após a reunificação do país, auxiliada pelos portugueses, Myanmar expandiu seu poderio até o Golfo de Bengala, ameaçando o interesse colonialista britânico. Depois de três grandes guerras, submeteu-se, por fim, em 1855 ao controle inglês, adotando o nome de Burma – em português, Birmânia – sendo que apenas em 1937 os britânicos desmembraram o território da Índia. Finda a sangrenta ocupação japonesa durante a Segunda Grande Guerra e a reocupação inglesa, em 1948 o país proclamou a sua independência.
Mas, apesar do declínio do colonialismo, a vida política do país continuou conturbada. Em 1962 um golpe de Estado aboliu a Constituição e deu início à ditadura militar – que governou o país, entre instabilidades e guerrilhas, até 2011, quando iniciou-se o processo de democratização e abertura vigente. Atualmente, inclusive, a primeira-ministra é uma mulher, isso que é progresso! 🙂
Meu roteiro de 8 dias: Bagan, Inle Lake e Mandalay
Saindo de Bangkok, compramos um voo de ida e volta para Mandalay com a Bangkok Airways, que seria nosso último destino e onde tínhamos outro voo para Bagan. 4 dias 3 noites na cidade que foi a capital do Reino de Pagan e que é conhecida por seus mais de 2000 mil templos foram suficientes para explorar com tranquilidade seus pagodas com visuais apaixonantes. Seguimos para Inle Lake, onde ficamos 2 noites e terminamos em Mandalay, onde tivemos também outras 2 noites.
Sem tempo suficiente, preferimos conhecer Mandalay à Yangon. Ambas são cidades maiores e em termos de experiência turística, Mandalay me pareceu ter mais à oferecer, apesar de ter ficado com vontade de conhecer Yangon, sobretudo após me encantar com o país.
Planejando a sua viagem para o Myanmar
A velocidade das transformações pode tornar o planejamento de uma viagem para lá ainda mais complicado, mas ainda sim recomendo o Guia da Lonely Planet. O compacto do Sudeste Asiático – big trips small budgets – foi o meu melhor amigo durante a minha aventura asiática e me deu muitas dicas fundamentais para explorar o país.
Visto: como tirar o e-visa
O procedimento de visto, exigido para brasileiros, pode ser feito todo online neste link. É um procedimento simples, custando 50 dólares, pagos com cartão de crédito. A carta de entrada a ser apresentada na imigração chega por e-mail. O único detalhe para se atentar é o prazo de 90 dias entre o pedido e a data de saída do país. Fiz desta forma e ocorreu tudo dentro do previsto.
Para mais informações sobre vistos no Sudeste Asiático veja esse post.
De modo geral, apesar de uma dificuldade inicial de planejamento online, viajar por lá é fácil. Sobretudo devido ao povo humilde e amigável que se acostuma com rostos ocidentais ainda com curiosidade.
Prepare-se para ser olhado como um alienígena e para pedidos de selfs ou fotos de família, sobretudo se estiver fora do roteiro turístico. Afinal, você é tão exótico para eles quanto eles são para você, isso que é o mais legal! 🙂
Turismo responsável
No entanto, a dica principal é: vá e vá agora e, se possível, de forma independente, tendo cuidado para que o dinheiro do turismo caia nas mãos certas. Não faltarão ótimos guias locais e motoristas para apresentar com vozes tímidas um pouquinho do universo deles.
Uma das coisas que me surpreendeu é que, ao menos nas cidades turísticas como Bagan e Inle Lake, grande parte da população ao menos arranha o inglês, o que te dá mais liberdade de viajar sem excursões ou grandes grupos.
Por lá, você se deparará com artesanatos maravilhosos em laca, madeira, folhas de ouro, pérola, mármore, bronze, além de belas sedas feitas em tear manual – utilizando até mesmo a flor de lótus. Tenha cuidado para comprar estes produtos direto das mãos que os fazem, valorizando estas tradições.
A maior parte do turismo do país se passa dentro de templos. O mais interessante é que mesmo que muito antigos, estes permanecem em atividade, diferente do que vemos em outros países do Sudeste Asiático. Lembre-se sempre das regras de respeito, retire os sapatos para entrar – facilita se usar sandálias – e utilize roupas apropriadas.
Quando ir
Basicamente o Myanmar possui duas estações diferentes: a seca de outubro a maio e a chuvosa de maio a outubro. Passamos o ano novo por lá e a temperatura, apesar de bem elevada durante o meio dia, não foi um impeditivo.
No entanto, ouvi relatos de outros viajantes que foram para lá nos meses de fevereiro e março, auge do calor, que tinham que fazer uma pausa durante o dia para recompor a dignidade e continuar explorando.
Deslocamentos internos
Como tínhamos pouco tempo para o número de locais que gostaríamos de explorar optamos por fazer todos os deslocamentos de aéreo, ganhando tempo. Com uma pesquisa atenta no Sky Scanner as pequenas companhias áreas nacionais surgem no buscador. Prepare-se para voar de bimotor!
As principais companhias são a Asian Wings, Air Bagan, Air KBZ, Air Mandalay. Voei também com uma empresa menor a Mann Yadanarpon e apesar do sistema complicado para comprar as passagens online e dos cartões de embarque preenchidos à mão – o que achei tão fofo que até guardei o meu – não tive nenhum problema.
Mesmo dando um friozinho na barriga, as aeronaves pareceram ser bem novas, transmitindo uma segurança maior. Se possível evite voar com a Myanmar National Airlines, a companhia aérea do governo.
Outra opção são os deslocamentos de ônibus noturno, já que muitas vezes as distâncias não são tão grandes. Para mais informações veja esse link.
Dinheiro
Notas de 50 ou 100 dólares sem nenhum amassado são as melhores opções para câmbio que pode ser feito com segurança em aeroportos ou bancos, onde inclusive, você encontra as melhores taxas cambiais. Outra opção é sacar em algum ATM destes locais, mas não conte exclusivamente com estes. Alguns poucos estabelecimentos aceitam cartão Mastercard, mas será cobrada a taxa de até 5% em cima.
Viajar pelo Myanmar é um teletransporte para um universo paralelo em que somos apenas espectadores
É uma chance de conhecer o outro lado do mundo, que você só imaginou em sonho, em seu estado natural, antes que esta pureza – existente em cada rosto curioso e sorridente com thanaka nas bochechas – seja devorada pelo turismo de massa. A hora é agora de pegar este teletransporte.
Embarcando nesta jornada, que aconteceu também dentro de mim em fluxos de consciência, cada vez me interesso menos pelo que já conheço – seja lá do outro lado do mundo ou pertinho de casa – e tenho vontade de (vi)ver estas novas possibilidades, novos universos, que deixam de ser estranhos ao se tornarem conhecidos.