Nos aventurando por novos sabores
Adoramos fazer posts gastronômicos na nossa sessão comer. E cada vez mais, venho admitindo para mim mesma que preparar e apreciar o alimento são coisas muito importantes para mim e que me dão muita felicidade como ser humano e cozinheira. Nesse sentido, o blog tem sido uma forma muito gostosa de unir estas paixões, já que viajando abrimos nossos horizontes culinários para novos sabores e preparos.
Já conheci gente que viajou pro outro lado do mundo e só comia fast food ou pratos que soassem familiares para o paladar ocidentalizado, normalmente vendidos com preços mais caros, mesmo que mal preparados. Pois bem, sou defensora que é fundamental nos arriscarmos nas novas possibilidades, pois cultura também se conhece com o paladar, por mais diferente ou até estranho que possa parecer. Ainda mais tratando-se da tão rica culinária mexicana que inspira chefes do mundo todo.
Assim como aconteceu na aventura asiática, admito que depois de quase dois meses viajando pelo país e comendo tortilla – base da alimentação local – em quase todas as refeições, chega uma hora que a gente sente falta do arroz com feijão de casa.

Vai um cactos para o jantar?
Mas viajar é expandir nossos horizontes gastronômicos, mesmo que desta vez já estivesse evitando comer carne – o que foi um pouco difícil em um país de culinária bastante carnívora. O México, em sua versão mais autêntica e apresentada pelos locais, surpreendeu novamente minhas papilas. E se você é herbívoro, saiba que consegui me virar bem pelo país – as vezes comendo mais quesadillas do que gostaria, mas em todas as cidades turísticas encontramos boas opções de vegetarianos.
“México es maíz”
Engana-se quem associa a culinária mexicana aos nachos e burritos do estilo tex-mex do Taco Bell –num pacote de esteriótipos que incluem sombreros, cactos colunares e mariates. Nada disso. A base da alimentação mexicana de fato é o milho, em elotes – espigas – ou no formato de tortillas e delícias nos mais diferentes preparos. Mas a comida mexicana é ancestral e muito rica. Reflete-se na tradição familiar, no preparo lento, caseiro e condimentado.
¿Pica ou no pica?
Muitas vezes a nossa referência de culinária e dos costumes mexicanos destoam muito da realidade que é muito mais interessante e não tão apimentada assim como imaginamos. Os mexicanos são sabidamente apaixonados por pimenta que é onipresente em sua culinária.
Mas, ao contrário da minha estada na Tailândia em que de fato, pela primeira vez, fiquei assustada com o chilli – que me fazia chorar em todas as refeições – no México, o picante é quase sempre posto nas salsistas à parte, conferindo muito sabor e colocadas à gosto.
Uma boa dica que aprendi com os locais é cheirar antes as salsas – se arde no nariz, com certeza arde na boca.
Comida corrida
Melhor opção para refeição do dia-a-dia com preço em conta, sem ser no formato de tortilla. Uma espécie de plat du jour mexicano, um menu com preço fixo. Tradicionalmente, assim como nas casas mexicanas, a entrada é um caldo. Em sequência, o prato principal e acompanhamento. O valor pode incluir ainda pão e água de sabor. Além das salsas, claro.
Não tenha medo, aproveite para provar todas as iguarias-de-fato-mexicanas que você ver pela frente, não deixando de provar:
mole – prato mais famoso de Puebla e de Oaxaca que poderia ser explicado como um molho que pode ser feito com mais de 100 ingredientes, entre pimentas e até mesmo chocolate – o que torna este prato mexicano um dos mais diferentes! Existem 7 moles em Oaxaca, um para cada dia da semana, sendo o mole negro, o mais famoso.
barbacoa – o bom churrasco mexicano, peças bovinas, suínas e caprinas assadas na brasa em fornos de barro por horas. Você com certeza verá por todo país, já que é uma tradição familiar de fins de semana. Um bom indicativo se o lugar é bom é se está cheio.
elote – a espiga de milho vendida em todos os zócalos, praças das cidades, normalmente com maionese e claro, pimenta em pó.
chile relleno – tradicional de Puebla, mas presente nos cardápios de todo o país, trata-se de uma pimenta jalapeño recheada de queijo ou carne, gratinada. Pelo incrível que pareça não pica muito.
chapulines – grilos fritos que são uma delícia com uma cervecita acompanhando. Estes são vendidos como aperitivo em mezcalerias e também por muitas moças e abuelas, com trajes típicos e baldes de insetos, onipresentes pelas ruas do centro. Diz a lenda que se você come chapulines em Oaxaca retornará à cidade. Para mim funcionou.
glórias – esses docinhos de doce de leite feitos de leite de cabra e noz pecan vendidos nas lojinhas de conveniência são simplesmente viciantes.

Os doces mexicanos costumam ser muito doces. Mas as Glórias ganharam meu coração!
guacamole – na verdade é muito comum ser colocado como acompanhamento de tacos e tortillas, junto com o creme azedo e o pico de gallo, mas diferente do que absorvemos no Brasil, normalmente trata-se apenas no avocato amaçado, com sal e limão. Para mim, a melhor versão é na forma de salsa verde ou molho picante.
chicharrón – o torresmo mexicano, vendido em quantidades assustadoras em barracas próprias em todos os mercados.
frutas exóticas – adoro provar as frutas diferentes de cada país. No México, as novidades foram a tuna, uma espécie de pitaya, o lulo, que faz um suco azedinho delicioso e a minha favorita, o mamey – uma mistura de caqui com mamão, seria uma boa explicação para o seu sabor.
tlayudas – uma pizza pré-hispânica de massa de tortilla, quesillo, o queijo de Oaxaca – que por si só já é um prato típico – além de feijão e muitas outras possibilidades. A tlayuda é uma ótima pedida para vegetarianos, já que há sempre opções com e sem carne.

Tlayuda vegetariana, típica de Oaxaca
tamales – um dos mais ricos do país, parecem com pamonhas salgadas recheadas. Você pode encontrar no mercado ou em bicicletas ambulantes, sendo vendidos calentitos y deliciosos.
tacos –sem dúvida o prato mais famoso e comum do país. Não deixe de provar o el pastor – tacos do assado tradicional de carne de porco, servidos com coentro e limão. Estão no menu de quase todos os restaurantes – taco árabe – servidos na tortilla de farinha muito famoso em Puebla – e os tacos de pescado, peixe fresquinho empanado com molhos deliciosos, os meus favoritos.

Os famosos tacos árabes pueblanos de Ugly Delicious
chilaquiles – uma espécie de café da manhã tradicional: salsa de pimenta verde ou vermelha, ovos e totopos, que conhecemos como nachos. Alimenta para o dia inteiro!
enchiladas – tortillas recheadas cobertas com salsa e queijo gratinado, lembram uma espécie de panqueca. Assemelham-se às enfrijoladas, em que no lugar da salsa, coloca-se feijão.
gorditas – tortillas recheadas de feijão e queijo antes do preparo. Delícia.

Rodízio de tacos de pescado, Los Pescaditos, CDMX
paletas e neves – os tradicionais helados mexicanos muitas vezes me salvaram do intenso calor que faz no país. A minha sorveteria favorita mexicana foi a Tepoznieves, mas quanto mais artesanal e necessitado você está melhor, ainda mais tratando-se de uma viagem de bicicleta em que quanto mais para o sul do México chegávamos mais quente ficava. Experimente os sabores exóticos – de arroz doce, nopal, jamaica.

Nieves <3
quesadillas de flor de calabaza, ou abobrinha, e de nopal – o que para nós poderia ser chamado de cactos, para os mexicanos é apenas um legume, que lembra bastante o chuchu, usual em tacos e quesadillas vegetarianas.
burritos e flautas – mais comuns na região da Baja, dificilmente encontrados no resto do país, apesar de serem famosos na gastronomia mexicana internacionalizada pelos Estados Unidos.
fajitas – refogados de carne ou legumes picadinhos, servidos com claro, tortilla y salsa.
E por quê não tentar uma aula de gastronomia mexicana? É sempre uma boa pedida para buscar nas experiências com locais do AirBnB Experiences.
Para beber:
aguas frescas, as típicas águas de sabor, com frutas e gelo, vendidas aos montes em todas as esquinas.
jamaica – chá de hibisco, cuidado com os excessos e efeitos colaterais da bebida ou poderá sofrer com o mal de Montezuma!
michelada – sal, limão, molho inglês, pimenta e um pouco de cerveja. Não me apetece um pouco, apesar de ser bem comum.
tejate – parece que el sagrado maíz está presente até nas bebidas. A bebida tradicional é feita de farinha de milho e cacau, sendo vendida em todos os mercados.
café e o chocolate são produtos locais muito apreciados, tendo várias cafeterias e pequenas fábricas artesanais pela cidade que moem o cacau na hora acrescentando açúcar e canela – a marca registrada do chocolate oaxaqueño. Se você não sabe o chocolate é um presente dos povos pré-hispânicos para o mundo, sendo consumido como bebida sagrada e energética antes de guerras, há milênios. O mais diferente é que, seguindo o costume, o chocolate quente é bebido com água e não com leite, por aqui.

Não deixe de provar o Mezcal, curtindo a noite oaxaqueña
“Para todo mal, mezcal, y para todo bien, también.”
Apesar de termos a tequila como bebida nacional mexicana, bebe-se muito mais cerveja – onde as minhas favoritas foram a Pacífico e a Victoria – e, claro, o mezcal. Se a tequila é feita do agave azul, dos demais tipos de agaves, é feito o mezcal. O maior estado produtor do país é Oaxaca, onde existem mais de 32 espécies de agave e uma mezcaleria em cada esquina.

Nem só de Dorilouco vivem os mexicanos!